Don co vim e quem co sô


 

Nascido de uma família humilde, fui dado à luz na capital do estado e passei o início da minha infância na zona rural de Dionísio, no Vale do Aço - a cidade que nasceu do amor. Minhas noites eram iluminadas à lamparina e meu sono era ninado no calor do colo da minha mãe Maria e ouvindo as histórias da minha vó Rosina ao lado da minha irmã Paula.

Com o passar dos anos ganhei uma irmãzinha que acabou indo morar em outra cidade e eu só fui conhecer na festa de quinze anos. Já Cidely, a rapinha do tacho, essa sim ficou com a gente.

Eu, minha mãe, minhas irmãs e nenhum pai... os tempos eram difíceis. Logo cedo já tivemos que dar nossos pulos. Mesmo saindo da roça e indo pra cidade, aos dez, doze anos de idade eu sempre continuava colando com minha vó ajudando a vender frutas e verduras pelos rincões dionisianos - com destaque para as gigantescas laranjas bahia que vendíamos por cento e as jabuticabas bitelonas que iam por litro.

Mais algum tempo se passou e já adolescente passei a vender também picolé, sorvete, chup chup (que depois eu descobri que o resto do Brasil chamava de sacolé ou geladinho) e a trabalhar como recepcionista no hotel da Sandra. Com isso ganhava um tutuzinho que dava pra comprar minhas coisinhas, ajudar em casa e ainda fazer uma poupancinha. O foco já estava no temido vestibular que eu faria no final do ano de 2005 - pois eu já tinha percebido que a educação era a melhor aposta pra melhorar as coisas pra mim e pra minha família.

Sempre ajudado pela Sandra, pelas minhas professoras e pegando firme nos estudos, consegui ser o primeiro dentre todos os tios e primos a conseguir entrar numa universidade federal. Entrei em uma, mas tinha passado em três. O principal critério para escolher a UFV e não a UFMG? A Assistência Estudantil, é claro. Morar nos alojamentos e comer no Bandeijão em troca de prestação de atividades era um luxo pra mim naquele momento. Logo só comer e morar já não era o suficiente e eu precisei conciliar os estudos no curso de Ciências Econômicas com o trabalho de garçom no famoso Cachorrão do Felipão - além dos bicos que fazia nas férias pro originalíssimo McDima's.

A graduação foi um aprendizado e tanto. Meu primeiro contato com outras culturas, outros pensamentos, com o Movimento Estudantil, DCE, CA's e DA's - além da CMA (Comissão de Moradores de Alojamento). Pela primeira vez eu percebia que nem tudo se tratava "apenas" de mim e da família... que as pessoas agraciadas com a oportunidade de ter acesso ao conhecimento também tinham uma grande responsabilidade... a responsabilidade de interceder por aqueles que não tiveram a mesma oportunidade! Foi aí que se plantou a sementinha que anos depois viraria frondosa árvore.

Minha mãe, tadinha, foi-se embora no início do ano que seria o da minha formatura. A neoplasia gástrica nem deixou ela testemunhar eu passando no meu primeiro concurso público: recenseador do IBGE em 2010! Visitar centenas de casas e conviver e aprender com as histórias de tanta gente foi me dando cada vez mais a certeza de que eu tinha algo a mais pra contribuir nesse mundo.

Com a aprovação nos Correios em 2011 veio o início da estabilização financeira na minha vida, consolidada ainda mais quando passei no concurso da Caixa Econômica Federal em 2012 e onde trabalho até os dias de hoje. Neste ano de 2022 em que resolvi me candidatar, descobri também que serei pai - e estou muito otimista com todas as grandes experiências que estão por vir.

Cola comigo e vamos viver juntos este grande aprendizado!

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